sexta-feira, 5 de junho de 2015


  

Candidatos depenam galinhas no MasterChef da Band 

Chefs do programa humilham participantes


Nunca me passou pela cabeça ver o programa MasterChef da Band, que já tinha ouvido falar, porque não queria assistir os candidatos a chefs preparando pratos onde sempre o ingrediente principal é um corpo de animal. Para não passar raiva mesmo, vendo a continuidade de um modelo alimentar calcado na morte e exploração de seres sencientes. Por isso nem imaginava de que forma o programa era realizado.

Após topar com uma matéria no Caderno Ilustrada da FSP de 02/06/2015 sobre a chef argentina Paola Carosella, musa do programa e dona do Restaurante Arturito em São Paulo, me impus o desafio.

Nesta edição, a primeira turma ganhou uma caixa com ingredientes, incluindo peixe, para cozinhar, e a segunda deparou-se com galinhas brancas ainda com as penas, para serem depenadas antes da elaboração do prato. Curioso, não? Alguém costuma ver galinhas mortas, ainda com as penas, em supermercados ou açougues por aí?

Foi feito suspense antes de ser mostrada a primeira galinha morta e houve até participante que chegou a pensar que teria de matar algum animal antes de prepará-lo. Todos estão ali para produzir uma boa receita e continuar no programa e o animal assassinado apenas um ingrediente para esse propósito. Além da chef Paola, a mais rigorosa, dão opiniões sobre os pratos produzidos, os chefs Henrique Fogaça e Erick Jacquin. 

Fosse numa empresa qualquer, todos seriam processados por assédio moral. Mas é um programa, né? Onde os candidatos passam por diversas provas que testam a criatividade e a eficiência na cozinha e eles vão sendo eliminados. Arroz cru, coxas de galinhas cruas, má combinação de ingredientes, erros nos temperos, foram alguns dos resultados.

Ao invés dos ensinamentos e conselhos a partir dos resultados, da opinião educada, do respeito e incentivo, os candidatos que não se saíram bem nas tarefas sofreram um massacre no programa, além dos animais que já o foram antes, sendo as vítimas de sempre.

Para mostrar que é enérgica e exigente, a chef, com ajuda dos demais, levou candidatos derrotados às lagrimas, num misto de crueldade e escárnio.  

Na matéria da Ilustrada, Paola declara que não gosta de industrializados, enlatados, coca cola, e sim de coisas de verdade, “algo que ou saiu da terra ou de um bicho”. Diz que seria capaz de esquecer um tupperware no microondas, mas jamais um cordeiro na brasa. O cordeiro como se sabe é um bebê e isso não tem a menor importância para ela, bem como todos os animais que processa em seu restaurante.

Assim são os chefs ou candidatos a chefs. Com as mãos no sangue da culinária animalista, sem questionamentos, sem mudanças, para atender com seus requintes a sociedade mergulhada na prática exploratória e antiética.

Para além dos chefs dos cardápios onívoros, os chefs para uma culinária ética, sem ingredientes animais, reinventam receitas e conferem status a todos os ingredientes vegetais sem a necessidade de nenhum animal morto.  


A chef Laura Kim Barbosa já pilotou uma padaria que não utilizava nada de origem animal e atualmente ministra aulas de culinária vegan em sua casa, em São Paulo, e recebe convites para outras localidades, além de eventos especiais. Também mantém site sobre o tema e blog de receitas, além de produzir reportagens para o seu programa ‘Veganismo na TV’. 

Como ela conta, a proposta entrou em sua vida com a leitura de um material informativo do Instituto Nina Rosa, "A coragem de fazer o bem", que falava sobre a guarda responsável de cães e gatos, realidade dos rodeios, testes em animais e sobre veganismo. “Tudo o que eu li no folheto fez sentido para mim e me tornei vegana nesse mesmo dia”. 

05/06/2015
Ana Maria Machado