Representante do
negócio da carne tenta defender o indefensável
Artigo quer tirar o estigma de alimentos originados de animais tendo em vista manter e aumentar seu consumo
Ex- ministro da Agricultura no governo FHC e atual
presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco
Turra, 72, veio a público para criticar mitos e desinformações que, segundo ele,
“são mentiras defendidas de forma apaixonada por alguns desinformados que acabam
incentivando a diminuição do consumo de proteínas animais”.
Os tais mitos
propagados na sociedade que ele rebate em artigo publicado na Folha de São Paulo
(Opinião A5) de 28/2/2016, e também no site da ABPA, aqui, são sobre a adição de
hormônios nos frangos, o problema do colesterol no consumo de ovos, o consumo
de carne suína ser danoso à saúde e o relatório da ONU sobre o perigo do
consumo da carne processada.
Ao tentar esclarecer que não há uso de hormônios na produção
de frangos, conforme determina a legislação brasileira, de que o ovo hoje é
visto como quase um remédio, que a carne suína é um produto saudável oferecido nas
refeições hospitalares e que o consumo das carnes processadas só é danoso
quando for excessivo, o executivo da ABPA, e naturalmente aí cumpre o seu papel,
faz questão de esquecer os verdadeiros problemas que envolvem a produção de carnes e derivados
de animais para consumo humano.
Em primeiríssimo lugar, o representante coloca uma venda nos
olhos para não enxergar que animais não são produtos ou mercadorias, mas sim
vidas sencientes, e, portanto, não deveriam jamais ser submetidos a tanta dor,
escravidão, humilhação e sofrimento, tendo suas vidas roubadas nos matadouros.
Que todos esses alimentos ricos em proteínas, que demandam
terra e água para sua produção, e fornecidos aos animais trazidos ao mundo,
alimentariam muito mais pessoas diretamente, do que na sua conversão em
proteína animal.
Que a produção de carne e derivados deixa um rastro de poluição
no planeta por conta dos excrementos lançados, além da destruição da camada de
ozônio pela emissão do gás metano. E ainda o desmatamento para a criação de animais, a perda de biodiversidade, entre outras questões.
Assim, tenta-se mostrar que está tudo bem, que esses
produtos são bons, que esse modelo de produção é válido e deve continuar e que,
imagina, ninguém precisa parar de se alimentar dessa forma, e que o importante
é o equilíbrio no consumo.
De acordo com relatório da ONU, divulgado em 2013, 842
milhões de seres humanos passaram fome entre 2011 e 2013, ou seja, um em cada 8
pessoas não dispõe de alimentos suficientes para a sobrevivência, em especial
na África Subsaariana.
A continuidade desse modelo de alimentar animais com os
grãos que deveriam ser destinado para os humanos demonstra que não existe a
determinação de se acabar com a fome no mundo.
Basear a alimentação humana nos produtos vegetais que
fornecem todos os nutrientes necessários e não nos produtos animais seria de grande
benefício para a humanidade e para os animais, que não precisariam nascer para
virar escravos e morrer.
A sociedade, em geral, deveria estar mais bem informada,
sim, não aos fatos levantados no artigo de que o frango não tem hormônio, que o
ovo é tão bom, comer porquinho é saudável e os embutidos não fazem mal se
comidos moderamente, mas sim quanto ao impacto que suas escolhas causam na vida
dos animais e no meio ambiente. Está mais do que na hora de se informar e
mudar.
Ana Maria Machado
1 março 2016