terça-feira, 1 de março de 2016

Representante do negócio da carne tenta defender o indefensável

Artigo quer tirar o estigma de alimentos originados de animais tendo em vista manter e aumentar seu consumo

Ex- ministro da Agricultura no governo FHC e atual presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Turra, 72, veio a público para criticar mitos e desinformações que, segundo ele, “são mentiras defendidas de forma apaixonada por alguns desinformados que acabam incentivando a diminuição do consumo de proteínas animais”.

Os tais mitos propagados na sociedade que ele rebate em artigo publicado na Folha de São Paulo (Opinião A5) de 28/2/2016, e também no site da ABPA, aqui, são sobre a adição de hormônios nos frangos, o problema do colesterol no consumo de ovos, o consumo de carne suína ser danoso à saúde e o relatório da ONU sobre o perigo do consumo da carne processada.

Ao tentar esclarecer que não há uso de hormônios na produção de frangos, conforme determina a legislação brasileira, de que o ovo hoje é visto como quase um remédio, que a carne suína é um produto saudável oferecido nas refeições hospitalares e que o consumo das carnes processadas só é danoso quando for excessivo, o executivo da ABPA, e naturalmente aí cumpre o seu papel, faz questão de esquecer os verdadeiros problemas que envolvem a produção de carnes e derivados de animais para consumo humano.

Em primeiríssimo lugar, o representante coloca uma venda nos olhos para não enxergar que animais não são produtos ou mercadorias, mas sim vidas sencientes, e, portanto, não deveriam jamais ser submetidos a tanta dor, escravidão, humilhação e sofrimento, tendo suas vidas roubadas nos matadouros.

Que todos esses alimentos ricos em proteínas, que demandam terra e água para sua produção, e fornecidos aos animais trazidos ao mundo, alimentariam muito mais pessoas diretamente, do que na sua conversão em proteína animal.

Que a produção de carne e derivados deixa um rastro de poluição no planeta por conta dos excrementos lançados, além da destruição da camada de ozônio pela emissão do gás metano. E ainda o desmatamento para a criação de animais, a perda de biodiversidade, entre outras questões.

Assim, tenta-se mostrar que está tudo bem, que esses produtos são bons, que esse modelo de produção é válido e deve continuar e que, imagina, ninguém precisa parar de se alimentar dessa forma, e que o importante é o equilíbrio no consumo.

De acordo com relatório da ONU, divulgado em 2013, 842 milhões de seres humanos passaram fome entre 2011 e 2013, ou seja, um em cada 8 pessoas não dispõe de alimentos suficientes para a sobrevivência, em especial na África Subsaariana.

A continuidade desse modelo de alimentar animais com os grãos que deveriam ser destinado para os humanos demonstra que não existe a determinação de se acabar com a fome no mundo.

Basear a alimentação humana nos produtos vegetais que fornecem todos os nutrientes necessários e não nos produtos animais seria de grande benefício para a humanidade e para os animais, que não precisariam nascer para virar escravos e morrer.

A sociedade, em geral, deveria estar mais bem informada, sim, não aos fatos levantados no artigo de que o frango não tem hormônio, que o ovo é tão bom, comer porquinho é saudável e os embutidos não fazem mal se comidos moderamente, mas sim quanto ao impacto que suas escolhas causam na vida dos animais e no meio ambiente. Está mais do que na hora de se informar e mudar.

Ana Maria Machado
1 março 2016